A Democracia cobrará seu preço

Não, isso não vai acabar bem. A história do governo Bolsonaro está caminhando para um final que ao que tudo indica será traumático para o Brasil.

O embate entra a família do presidente e o Supremo Tribunal Federal se intensificou nas últimas semanas. Com o avanço do Inquérito que apura as ofensas e ataques ao tribunal, nomes ligados ao clã Bolsonaro começaram a surgir. E o pior, outras investigações parecem apontar para essas mesmas pessoas, como se tudo fosse parte de um grande esquema gerenciado por uma rede complexa de milicianos, assessores, apoiadores, parlamentares e até membros do governo.

O problema é que a queda dessa organização custará caro ao país. Presidente e família deram sinais de que não vão aceitar as investidas de outros poderes. Por exemplo a fala de Eduardo Bolsonaro dizendo que uma ruptura institucional “é questão de quando e não de se”, ou quando o próprio presidente diz, na porta do Alvorada, a uma apoiadora: “Está chegando a hora de colocar tudo no devido lugar”.

As instituições têm reagido, pelo menos as ligadas ao poder Judiciário. Augusto Aras, Procurador Geral da República, lidera as investigações. O TSE julgará nos próximos meses ações que podem cassar a chapa Bolsonaro-Mourão. O porém é a postura do Congresso Nacional, e principalmente, do seu líder Rodrigo Maia. O Presidente da Câmara tem adotado um comportamento moderado, com discursos pela paz entre os poderes, chegando a afirmar que não é hora de pensar em impeachment. Tal comportamento, apesar de extremamente político, já beira a omissão.

Esta semana, em mais uma fase da investigação que apura supostas “rachadinhas” no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, foi preso preventivamente o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, peça fundamental dos negócios da família presidencial. De fato, esse é mais um ingrediente que pode azedar o caldo que já não vai nada bem entre Planalto e Judiciário. Entretanto, desta vez, o presidente se manteve em silêncio, evitou falar com apoiadores e rapidamente trocou de advogado depois que o seu foi citado como anfitrião do sumiço de Queiroz.

Um sinal de trégua? Talvez. Só vamos descobrir de fato esperando a reação às próximas ações do MP, que muito provavelmente só tendem a se tornar mais frequentes. Se nada mudar, Bolsonaro tende a “esticar mais a corda” e provocar as instituições ao seu limite. Já a resposta das instituições deve seguir o script dos últimos capítulos, ações dentro do amparo da Constituição. E, se os chefes dessas instituições seguirem o script à risca, o atual governo estará com dias contados.

Os únicos caminhos para esses freios se tornarem realidade são os processos no âmbito do TSE ou do STF. Já se descarta um processo no parlamento. Não só pelo posicionamento e atitudes de Rodrigo Maia, mas também pela aproximação do famoso (não pelos melhores motivos) Centrão, que tem sido agraciado pelo governo com cargos em estatais e até Ministérios.

Não, não será apenas um impeachment. A provável saída de Jair Bolsonaro do Palácio do Planalto inaugurará um processo inédito, seja no STF ou TSE, que promete pôr a democracia à prova. Ameaças de golpe, atitudes autoritárias e uma escalada de violência daqueles que se dizem apoiadores do capitão da reserva, como a extremista Sara “Winter”, presa por coordenar ato na Praça dos Três Poderes onde “manifestantes” atiraram fogos de artifício em direção ao prédio do Supremo, fato completamente ignorado pelo presidente. Então não, isso não vai acabar bem.

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