Testemunho
Um dia desses, num lugar qualquer, avistava eu, um jovem. Pequeno, de cabelos negros, barba por fazer, trajando vestes escuras, pálido e de olhos castanhos. Com semblante triste, o pequeno homem parece lacrimejar. De fato, olhando melhor é possível perceber que na verdade, ele está aos prantos. Chora de até soluçar. Mas, por quê? Por que um jovem, que tem toda uma vida pela frente, estaria tão abatido?
Me aproximo e pergunto o que houve. Ele vira a cabeça, enxuga as lágrimas e olhando bem no fundo dos meus olhos, diz:
– Foi ela.- e aponta para frente.
Quando olho para frente, vejo uma jovem de cabelos negros, pele branca, nariz avantajado e de um sorriso misterioso. Espere. Não pode ser! Eu a reconheço. Se tratava da mesma garota que anos atrás, me deu o privilégio de amar e depois a dor do não. Mas, como?
Só então, é que percebo onde estou. Ah sim, o velho colégio onde passei os melhores anos de minha vida. Estou no pátio, sentado em uma das mesas próxima a capela. Vejo, agora meus velhos amigos, chegando para mais um dia de aula. Impossível! Já havíamos nos formado há quase dois anos. O que estava acontecendo?
De repente, de um pulo, acordo. Era um sonho. Respiro fundo e, começo a pensar no que vi. Depois de algumas horas matutando, constato que aquele pequeno jovem abatido, era eu mesmo. Eu havia conversado comigo mesmo. O sonho não passava de uma vaga lembrança de um tempo que não volta mais. Bons tempos aqueles. Aliás, também entendi, que quando meu “eu” disse “Foi ela”, ele estava se referindo não à garota que me fez sofrer, mas sim se referia à uma placa, presa no mural de avisos, no pátio. A placa de papel, dizia o seguinte: “Boas Férias! Até Breve!”. Aquele era o meu último dia no Colégio São João Gualberto.
Carlos Eduardo Carlini.
Muito bom.