O Gualberto nosso de cada dia

O garoto acorda. Se levanta. Vai ao banheiro, ainda cambaleando. Lava seu rosto, está com pressa, pois já passam das seis e sinal bate pontualmente as sete. Precisa correr. Dali trinta minutos já está entrando no colégio. Passa correndo pela entrada, onde um inspetor barbudo lhe deseja um bom dia. Quando chega na sala, seus amigos já estão lá, e o seu lugar, encostado na parede, também. Hoje as aulas são de: História, com uma professora meio maluca, que usa um óculos redondo e sempre está tomando café; Sociologia, com o professor comunista, alto e de cabelos grisalhos, que adora um bom debate; Literatura, com a professora mais antiga do colégio, que adorava se gabar de sua condição financeira, mas sempre com muito bom humor; Álgebra, com um japonês meio ranzinza, e muito inteligente; Gramática, com uma professora que sempre tinha novidades pra contar, parecia que tudo acontecia com ela, impressionante; e por último, Inglês, com uma professora muito querida por todos, tanto que é até cotada para ser paraninfa da turma. No meio das seis aulas, um intervalo. Vinte minutos. Tempo suficiente para jogar pebolim, comer um lanche, trazido de casa ou comprado da cantina, algo que necessitaria muito dinheiro.  No fim das aulas, ao meio dia e meia, liberdade. Não. Ainda falta a aula de Educação Física. Sem problemas, mais meia hora para almoçar. Quando é chegada a hora de se dirigir à quadra externa, uma inspetora com sotaque nordestino, de cabelos ruivos e sorriso leve, avisa que o professor os aguarda. Só dali três horas é que o jovem estudante estaria em casa de novo. Mas a cabeça ainda no colégio. Impossível se esquecer daquele sino, não o da escola, mas o do mosteiro ao lado do colégio, sempre tocando no mesmo horário todos os dias. Também não há como não lembrar do inspetor alto, moreno, que “ciscava” pelo pátio batendo nas mesas anunciando o fim do intervalo. Lembra-se ainda da pequena senhora, de cabelos loiros e com nome de flor, que sempre estava disposta a ajudar todos. Aliás, todos os funcionários daquele lugar pareciam estar sempre dispostos a ajudar, desde a faxineira até a enfermeira com seus chazinhos. Menos a senhora da copiadora, mas ela é um caso a parte. Ademais, pelo o que sei, esse é, e sempre será, o Gualberto nosso de cada dia.

Carlos Eduardo Carlini

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