O Saudosista
Estava fazendo muito sol lá fora. Até as árvores transpiravam de tanto calor que fazia naquele dia de Carnaval. Mas todos se preparavam para aquela que é considerada a maior festa do ano. Menos uma pessoa. Um jovem rapaz de cabelos negros, meio magricela, que nunca fora dessas aglomerações, multidões. Preferia ficar em casa, ler um bom livro – principalmente um dos romances de Machado de Assis – ou assistir ao um filme, daqueles meio drama meio comédia.
Para ele não fazia sentido ficar pulando como uma pulga, ao som de marchinhas que soavam quase sempre iguais. Ainda mais um ouvinte assíduo de rock. É nessas horas que fazem falta bons festivais de rock, como a Woodstock. “Ah …saudades do tempo em que o rock era o estilo musical da moda!”, pensava. Agora, pela primeira vez, se pegava pensando se era correto sentir saudades de um tempo que não viveu. Aliás, seria correto sentir saudades de um tempo vivido?
Volta e meia, lembrava do passado, chorava. Quantas vezes o encontraram ao prantos por ver uma foto de sua antiga turma do colégio, de um amigo que não fala há muito tempo. Não era mero sentimentalismo, era felicidade de perceber que viveu momentos maravilhosos e recordá – los naquele momento.
Afinal, faz parte da vida visitar, analisar e celebrar o passado. Para dar devido valor ao presente e tentar entender o futuro. Portanto, não tenha medo de dizer que sente saudades de algo ou alguém. Não sinta vergonha de , de vez em quando, ver aquelas fotos antigas, aqueles vídeos antigos, ou revisitar lugares que passou e rever pessoas importantes para ti.
A saudade é um sentimento lindo, inerente ao ser – humano, capaz de unir. A saudade é a prova do amor. Quem ama é saudosista.
“Onde não estamos é que estamos bem. Já não estamos no passado, e então ele parece-nos belíssimo.”
Anton Tchekhov.